Uma pesquisa publicada no último dia 13 de outubro trouxe à luz números assustadores de uma realidade já conhecida por quem acompanhou de perto a evolução dos óbitos causados pela Covid-19 no país: pelo menos 4,5 mil profissionais de saúde perderam a vida na luta contra a doença. Destes, 80% eram mulheres e 70% trabalhavam mais próximos aos pacientes (técnicos e auxiliares de enfermagem). Os outros 25% eram enfermeiros e 5%, médicos, de acordo com informações levantadas pelo estúdio de inteligência de dados Lagom Data especialmente para a Internacional de Serviços Públicos (ISP).
O estudo é parte de uma campanha da ISP em quatro países: Zimbábue, Paquistão, Tunísia e Brasil, que foi escolhido devido à abordagem negacionista do governo federal. “Faltaram equipamentos de proteção, oxigênio, vacinas, medicamentos, sobraram mensagens falsas e desaforadas do governo sobre a Covid-19, chocando o mundo. E até hoje os profissionais da linha de frente seguem desvalorizados no Brasil”, afirma Rosa Pavanelli, secretária-geral da ISP, que integra a Comissão de Alto Nível do Secretário-Geral da ONU sobre Emprego em Saúde e Crescimento Econômico.
As mortes foram em maior proporção entre os profissionais de saúde do que na população em geral, principalmente nos momentos em que faltaram equipamentos de proteção individual (EPIs) nas unidades. Aqueles sem contrato formal de trabalho também foram os que mais morreram na pandemia, segundo cruzamento entre os dados do Ministério da Saúde e informações sobre desligamentos por falecimentos no Novo Caged.
Na outra ponta, a vacinação prioritária deste grupo ajudou a frear os óbitos, que caíram mais rápido entre eles do que entre a população em geral, que demorou mais tempo para ser vacinada. Para a ISP, isso demonstra que diversas mortes poderiam ter sido evitadas se “houvesse zelo ou empenho governamental”.
Mais salário, menos aplausos
Seria de se esperar que, assim que as coisas melhorassem, esses profissionais que se arriscaram na linha de frente no pior momento da crise sanitária recebessem uma merecida recompensa por seus esforços. No entanto, o que há no momento é uma resistência à aplicação da Lei que compensa financeiramente os profissionais que ficaram incapacitados permanentemente por terem contraído Covid.
Também não entrou em vigor o novo piso salarial de enfermeiros e técnicos. “O mais urgente é garantir que o piso salarial de enfermagem vire realidade para, então, lutarmos pelo seu reajuste anual automático pelo índice da inflação, algo que Bolsonaro vetou”, defendeu Marcello Netto, coordenador global de comunicação da ISP.
Você precisa saber
Campanha pela erradicação do trabalho infantil é realizada pelo MPT e TRT-15 em Aparecida
Aproveitando o grande fluxo de fiéis e a data que marca tanto o Dia de Nossa Senhora de Aparecida quanto o Dia das Crianças, o Ministério Público do Trabalho (MPT) e o Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região (TRT-15), em parceria com o Santuário Nacional de Aparecida, divulgaram a “Carta de Aparecida” pela abolição do trabalho infantil, pelo acesso à educação e pela proteção integral e prioritária de crianças e adolescentes. “Toda criança, independentemente de sua condição econômica, social, da cor da sua pele, do lugar onde vive, precisa ter seu direito inalienável de ter uma infância feliz, sendo preservada contra todo tipo de violência e crueldade”, diz o documento aos fiéis que visitaram a cidade no interior de São Paulo nas comemorações do dia da padroeira do país. A Carta foi lida pelo procurador-geral do Trabalho, José de Lima Ramos Pereira, durante a missa das 12h, com transmissão ao vivo para todo o país. O documento reforça o alerta do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) para o fato de que a evasão escolar atinge cerca de 2 milhões de crianças e jovens de 11 a 19 no país. “Inadmissível que, em pleno século 21, um País que exporta comida para o mundo conviva com milhões de famintos, entre os quais meninas e meninos da mais tenra idade, forçados a abandonar a escola para trabalhar e poder comer”. A iniciativa recebeu o apoio do Papa Francisco.
Empresa mineira é condenada a indenizar ex-trabalhadora obrigada a rezar antes do trabalho
Uma ex-funcionária de um grupo de empresas de produtos odontológicos de Belo Horizonte, em Minas Gerais, receberá 10 mil reais de indenização por ter sido obrigada a rezar o “Pai-Nosso” antes de iniciar suas jornadas de trabalho. Além disso, ela recebia ameaças de corte de comissão e até agressão física e assédio moral no ambiente de trabalho. A trabalhadora relatou se sentir constrangida a realizar a oração, mesmo não tendo crença religiosa, motivo pelo qual chegou a se atrasar algumas vezes para o trabalho, a fim de evitar o momento. Como se não fosse suficiente, ela afirmou, ainda, ter sido perseguida na empresa pelo fato de estar em uma gravidez de risco e precisar se ausentar algumas vezes para consultas médicas. Segundo a decisão dos desembargadores da 11ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho de Minas Gerais (TRT-MG), as acusações contra a empresa foram comprovadas por áudios e depoimentos de testemunhas.
Análises
Mais mulheres, mais negros, menos avanço
Por Plataforma Gênero e Número da Carta Capital
As eleições deste ano tiveram um crescimento de 18% na quantidade de mulheres e de 8% no número de pessoas negras eleitas para a Câmara dos Deputados, que respectivamente serão 18% e 26% entre o total de parlamentares da Casa. O resultado não é só fraco em termos numéricos, mas também em probabilidade de resultar em avanços em direitos femininos, uma vez que mais da metade dessas mulheres estão à direita do espectro político. Já em relação às lideranças negras, a perspectiva é um pouco mais animadora, já que “as que conquistaram cadeiras são lideranças de perfil nacional, com muita legitimidade e contarão com uma base de apoio muito mais organizada e preparada para os desafios do próximo governo”, avalia Tainah Pereira, coordenadora política do Mulheres Negras Decidem e Co-coordenadora Geral do Estamos Prontas. Continue lendo
Eventos
- “Recuperação Judicial e Falência: Tratamento dos créditos nos processos de insolvência” é o tema de evento online que ocorre nesta terça-feira, 18/10, das 9h às 12h30.
- Capacitação Profissional em Atos Eletrônicos Particulares, Notariais e Registrais ocorre nesta quarta-feira, 19/10, das 9h às 12h30, de forma online.
- Também nesta quarta-feira, 19/10, às 18h, tem webinar sobre carreira docente no Direito.
Dicas culturais
- Podcast: “A História do Disco” disponibilizou no último dia 12/10 episódio especial com integrantes da banda DeFalla.
- Cinema: de 4/11 a 4/12 o Festival do Cinema Italiano ocorre de forma presencial e online com exibição de 33 longas entre inéditos e a retrospectiva Musas do Cinema Italiano.
- Música: o Queen lançou recentemente a redescoberta faixa “Face it alone”, gravada no fim do anos 1980 e com Freddie Mercury nos vocais.
Deficientes visuais recebem álbum adaptado por professora com figurinhas da Copa do Mundo em braille
Pensando na real inclusão de seus alunos à febre do momento, a pedagoga Gabriela Vansan, que trabalha na Associação dos Deficientes Visuais de Ribeirão Preto (Adevirp), em São Paulo, criou um álbum de figurinhas da Copa do Mundo em versão braille, adaptado para que pessoas com deficiências visuais também possam se divertir. “Quando começou essa febre de álbum da copa, eu já estava pensando como as crianças cegas e de baixa visão teriam acesso a esse álbum. Procurando na internet, eu vi o vídeo de um menino de 10 anos que é cego, e ele adaptou o álbum dele. Daí fui adaptando mais ou menos no que ele fez”, diz. A criação de Gabriela consiste em tarjas coladas nas figurinhas, que indicam a sigla do país e o número em braille. No álbum, também há indicação em cada página de onde e como colar as figurinhas. Para completar, um molde de EVA ajuda os colecionadores a ajustar o local exato para grudar os stickers. “Se nós não pensarmos com profundidade, parece algo até meio simples, mas é algo de extrema importância, porque os olhos estão voltados para esse momento, para o esporte. O deficiente visual não pode ficar à margem, ele tem que estar onde está o barulho, a energia. Isso facilita de forma vertiginosa para que a inclusão não seja algo somente falado, mas que seja algo de fato vivenciado”, defende Marlene Taveira Cintra, fundadora e presidente da Adevirp. A entidade aceita doações para a aquisição e adaptação dos álbuns que faltam para que todos os alunos possam participar da iniciativa.