As redes sociais e os trabalhos em plataforma estão mudando a maneira de desenvolvermos trabalho e isso não é mais novidade. Porém, alguns empregos ainda são recentes no entendimento político-jurídico, o que torna a representação em categorias mais difícil. Em artigo, o pesquisador sobre sociologia cultural com enfoque no trabalho, Michael Siciliano, trouxe o caso de criadores de conteúdo negros estadunidenses alegaram que a Google e o YouTube os discriminavam com base em sua raça e ideologia e, com isso, geravam menos rentabilidade pois o algoritmo os boicotavam. Segundo os criadores de conteúdo, isso infringia as leis de liberdade de expressão garantidas pela Constituição dos Estados Unidos.
Importante trazer que, de acordo com estudos, o algoritmo não cria categorizações, apenas “recria” as ações dos usuários, logo, se o sistema que estamos é racista, o algoritmo também será. Dito isso, no artigo, Siciliano trouxe a perda de ganhos dos “creators” e afirma: “… Lutar por uma classificação adequada como trabalhadores, tanto legalmente quanto (talvez mais importante) na consciência pública, é necessário para garantir uma vida mais digna e um futuro igualitário para todos os produtores de conteúdo”.
Experiência que já está em curso é o caso do FairTube, na Alemanha. Em 2019, YouTubers da Alemanha se uniram ao maior sindicato de metalúrgicos da Europa, o IG Metall (um dos maiores sindicatos do mundo), para conseguir pressionar a plataforma a ter mais transparência nas ações, tanto para os criadores, quanto para os usuários. O IG Metall expandiu sua atuação, abrangendo categorias como a engenharia elétrica, T.I, plásticos e têxteis. O grupo conhecido como YouTube Union que se uniu ao IG Metall, transformou-se em FairTube.
Ainda de acordo com Siciliano, o caso dos “creators” estadunidenses poderia ser considerado um processo trabalhista, não de liberdade de expressão, se os produtores de conteúdo no geral fossem considerados e se considerassem trabalhadores.
“As equipes jurídicas dos creators podem argumentar que o google/ youtube se envolve em uma sistemática discriminação salarial com base em questões de raça, por exemplo. Isso pode ser feito analisando como as taxas de pagamento do youtube (cpm ou custo por mil, uma quantia em dólares por 1.000 visualizações) variam por raça/etnia enquanto controlam o tamanho do público – uma tarefa desafiadora para criadores que não têm acesso fácil aos dados necessários, mas que é facilmente realizada pelo youtube.” Michael Siciliano.
Mariana Ornelas – Rede Lado