Aumento dos diagnósticos de burnout no Brasil alertam para necessidade de medidas protetivas | Rede Lado

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out 17, 2024

Aumento dos diagnósticos de burnout no Brasil alertam para necessidade de medidas protetivas

Aumento de demandas, longas jornadas e ambientes insalubres podem contribuir para o adoecimento mental de trabalhadores. Aqui, desde 2014, subiu quase 1.000% o número de pessoas afastadas por burnout.

Aumento das demandas, longas jornadas de trabalho, ambientes insalubres. Esses são alguns dos aspectos que podem contribuir para o adoecimento mental dos trabalhadores. Apenas na última década, o Brasil registrou um aumento de quase 1.000% no número de pessoas afastadas do trabalho por burnout – Síndrome do Esgotamento Profissional – apontam dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), do Ministério da Previdência Social.

A precarização e a informalidade, que provocam insegurança social e financeira aos trabalhadores, além da intensificação e do aprimoramento das técnicas de gestão e cobranças de metas também podem contribuir para o adoecimento mental dos empregados. É o que explica Thomaz Bergman, advogado no escritório AVM Advogados e integrante da Rede Lado.

Segundo Bergman, a utilização de softwares como o BossWare – um dispositivo para computadores que consegue verificar todas as atividades realizadas, inclusive o que é acessado remotamente pelo empregado – criam uma sensação de cobrança e pressão constante nos trabalhadores. “Aquela ideia de que o trabalho em casa traz mais flexibilidade, ela é confrontada com esse excesso de controle que o empregador pode efetuar”, afirma.

Diante desses aspectos, a atenção e a proteção da saúde mental dos trabalhadores são questões cada vez mais relevantes no ambiente de trabalho. Em 2023, o Ministério da Saúde atualizou a lista de doenças relacionadas ao trabalho e incluiu o burnout, que desde 2022 é reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como síndrome ocupacional crônica. Neste ano, o governo federal determinou que os trabalhadores terão a proteção da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que gerencia riscos ocupacionais. A NR-1 passará a obrigar as empresas a promoverem ambientes livres de violações contras os trabalhadores.

Há normas, mas falta fiscalização

As Normas Regulamentadoras (NRs) padronizam a segurança e saúde no trabalho. São Normas que tratam de aspectos particulares e gerais, como equipamentos de proteção individual (EPIs), prevenção de incêndios, condições de higiene e conforto, entre outros. A elaboração e a revisão das NRs são realizadas adotando o sistema tripartite paritário – envolve representantes do governo, de empregadores e de trabalhadores – recomendado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Bergman aponta que o Brasil tem progredido com as NRs. As últimas atualizações obrigam as empresas a darem mais atenção aos adoecimento mental de seus empregados, além de fazer um melhor mapeamento dos diagnósticos para prevenir novos casos, explica o advogado.

Entretanto, as empresas precisam seguir corretamente as NRs para que o cuidado com a saúde dos trabalhadores seja pleno, destaca Bergmann. “Se as empresas adotassem o conteúdo das Normas Regulamentadoras que já estão editadas, a gente poderia efetivamente ter uma redução desses casos [adoecimento mental]”, reitera.

As NRs são apenas um dos mecanismos para proteger a saúde dos trabalhadores. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) estabelece programas específicos e medidas protetivas para os profissionais, como:

Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO): Monitora a saúde dos trabalhadores para prevenir doenças relacionadas ao trabalho e promover a saúde no ambiente laboral;

Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA): Identifica e controla os riscos ambientais para garantir um espaço de trabalho mais seguro para os profissionais.

O Sistema Único de Saúde (SUS) também possui um programa protetivo, a Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (Renast). Instituída em 2002, a Renast envolve o Ministério da Saúde e as secretarias de saúde de estados, municípios e do Distrito Federal. Essa Rede tem o objetivo de prestar assistência especializada em saúde aos trabalhadores, por meio de ações de promoção, proteção, prevenção e de vigilância em saúde.

A principal assistência promovida pela Renast são os Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest). Os espaços oferecem serviços para prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças ocupacionais. Todos os tipos de trabalhadores podem ser atendidos, sejam formais do setor público e privado, autônomos, informais, ou desempregados que sofram de alguma doença relacionada ao trabalho. Em parceria com a Vigilância Sanitária, os Cerest também investigam as condições do ambiente de trabalho com uso de dados epidemiológicos.

Porém, mesmo com normas e programas estabelecidos, há um desafio significativo a ser considerado para a proteção efetiva da saúde dos trabalhadores: a precariedade da fiscalização. Com fiscalização é possível detectar não somente problemas relacionados à saúde dos trabalhadores, mas casos de violações de direitos trabalhistas e humanos.

Segundo Bergman, parece haver desinteresse das empresas em controlar ou mitigar os agravos do adoecimento ocupacional. Para o advogado, a imposição de metas está diretamente ligada à geração de lucros, portanto caso ocorra redução da pressão sobre os trabalhadores, haverá impactos no resultado das empresas – o que explicaria esse desinteresse. “Os instrumentos já existem, se eles fossem minimamente fiscalizados e cumpridos, nós já teríamos uma melhora”, afirma Bergman. E completa: “a necessidade é justamente de intensificar os meios de cobrança e de implementação das normas já existentes na legislação”.

Discussões sobre adoecimento dos trabalhadores

O adoecimento dos trabalhadores e a relação com a precarização do trabalho será um dos tópicos de discussão e análise no Seminário “Em que mundo você vive: direito sem trabalho, trabalho sem direitos?”, promovido pela Rede Lado. O evento deste ano terá quatro painéis temáticos na edição deste ano. Participarão advogados trabalhistas e estudiosos da área, representantes sindicais, entre outros.

O Seminário ocorrerá dias 7 e 8 de novembro, no Hotel Intercity Paulista, em São Paulo (SP). As inscrições estão quase no fim, inscreva-se pelo site Sympla, o valor é de 400 reais a inteira. A meia-entrada é assegurada para pessoas aposentadas, integrantes de entidades sindicais, estudantes, professores e professoras. As comprovações devem ser feitas no credenciamento do evento.

Serviço

  • O quê: Seminário “Em que mundo você vive: direito sem trabalho, trabalho sem direitos?”
  • Organização: Rede Lado
  • Local: Hotel Intercity Paulista (Rua Haddock Lobo, 294 – Cerqueira César, São Paulo/SP)
  • Datas: 7 e 8 de novembro, quinta e sexta-feira, das 10h às 17h
  • Inscrições: https://bit.ly/3yyij9O

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