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Aumento dos diagnósticos de burnout no Brasil alertam para necessidade de medidas protetivas

Aumento dos diagnósticos de burnout no Brasil alertam para necessidade de medidas protetivas

Aumento das demandas, longas jornadas de trabalho, ambientes insalubres. Esses são alguns dos aspectos que podem contribuir para o adoecimento mental dos trabalhadores. Apenas na última década, o Brasil registrou um aumento de quase 1.000% no número de pessoas afastadas do trabalho por burnout – Síndrome do Esgotamento Profissional – apontam dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), do Ministério da Previdência Social.

A precarização e a informalidade, que provocam insegurança social e financeira aos trabalhadores, além da intensificação e do aprimoramento das técnicas de gestão e cobranças de metas também podem contribuir para o adoecimento mental dos empregados. É o que explica Thomaz Bergman, advogado no escritório AVM Advogados e integrante da Rede Lado.

Segundo Bergman, a utilização de softwares como o BossWare – um dispositivo para computadores que consegue verificar todas as atividades realizadas, inclusive o que é acessado remotamente pelo empregado – criam uma sensação de cobrança e pressão constante nos trabalhadores. “Aquela ideia de que o trabalho em casa traz mais flexibilidade, ela é confrontada com esse excesso de controle que o empregador pode efetuar”, afirma.

Diante desses aspectos, a atenção e a proteção da saúde mental dos trabalhadores são questões cada vez mais relevantes no ambiente de trabalho. Em 2023, o Ministério da Saúde atualizou a lista de doenças relacionadas ao trabalho e incluiu o burnout, que desde 2022 é reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como síndrome ocupacional crônica. Neste ano, o governo federal determinou que os trabalhadores terão a proteção da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que gerencia riscos ocupacionais. A NR-1 passará a obrigar as empresas a promoverem ambientes livres de violações contras os trabalhadores.

Há normas, mas falta fiscalização

As Normas Regulamentadoras (NRs) padronizam a segurança e saúde no trabalho. São Normas que tratam de aspectos particulares e gerais, como equipamentos de proteção individual (EPIs), prevenção de incêndios, condições de higiene e conforto, entre outros. A elaboração e a revisão das NRs são realizadas adotando o sistema tripartite paritário – envolve representantes do governo, de empregadores e de trabalhadores – recomendado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Bergman aponta que o Brasil tem progredido com as NRs. As últimas atualizações obrigam as empresas a darem mais atenção aos adoecimento mental de seus empregados, além de fazer um melhor mapeamento dos diagnósticos para prevenir novos casos, explica o advogado.

Entretanto, as empresas precisam seguir corretamente as NRs para que o cuidado com a saúde dos trabalhadores seja pleno, destaca Bergmann. “Se as empresas adotassem o conteúdo das Normas Regulamentadoras que já estão editadas, a gente poderia efetivamente ter uma redução desses casos [adoecimento mental]”, reitera.

As NRs são apenas um dos mecanismos para proteger a saúde dos trabalhadores. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) estabelece programas específicos e medidas protetivas para os profissionais, como:

Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO): Monitora a saúde dos trabalhadores para prevenir doenças relacionadas ao trabalho e promover a saúde no ambiente laboral;

Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA): Identifica e controla os riscos ambientais para garantir um espaço de trabalho mais seguro para os profissionais.

O Sistema Único de Saúde (SUS) também possui um programa protetivo, a Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (Renast). Instituída em 2002, a Renast envolve o Ministério da Saúde e as secretarias de saúde de estados, municípios e do Distrito Federal. Essa Rede tem o objetivo de prestar assistência especializada em saúde aos trabalhadores, por meio de ações de promoção, proteção, prevenção e de vigilância em saúde.

A principal assistência promovida pela Renast são os Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest). Os espaços oferecem serviços para prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças ocupacionais. Todos os tipos de trabalhadores podem ser atendidos, sejam formais do setor público e privado, autônomos, informais, ou desempregados que sofram de alguma doença relacionada ao trabalho. Em parceria com a Vigilância Sanitária, os Cerest também investigam as condições do ambiente de trabalho com uso de dados epidemiológicos.

Porém, mesmo com normas e programas estabelecidos, há um desafio significativo a ser considerado para a proteção efetiva da saúde dos trabalhadores: a precariedade da fiscalização. Com fiscalização é possível detectar não somente problemas relacionados à saúde dos trabalhadores, mas casos de violações de direitos trabalhistas e humanos.

Segundo Bergman, parece haver desinteresse das empresas em controlar ou mitigar os agravos do adoecimento ocupacional. Para o advogado, a imposição de metas está diretamente ligada à geração de lucros, portanto caso ocorra redução da pressão sobre os trabalhadores, haverá impactos no resultado das empresas – o que explicaria esse desinteresse. “Os instrumentos já existem, se eles fossem minimamente fiscalizados e cumpridos, nós já teríamos uma melhora”, afirma Bergman. E completa: “a necessidade é justamente de intensificar os meios de cobrança e de implementação das normas já existentes na legislação”.

Discussões sobre adoecimento dos trabalhadores

O adoecimento dos trabalhadores e a relação com a precarização do trabalho será um dos tópicos de discussão e análise no Seminário “Em que mundo você vive: direito sem trabalho, trabalho sem direitos?”, promovido pela Rede Lado. O evento deste ano terá quatro painéis temáticos na edição deste ano. Participarão advogados trabalhistas e estudiosos da área, representantes sindicais, entre outros.

O Seminário ocorrerá dias 7 e 8 de novembro, no Hotel Intercity Paulista, em São Paulo (SP). As inscrições estão quase no fim, inscreva-se pelo site Sympla, o valor é de 400 reais a inteira. A meia-entrada é assegurada para pessoas aposentadas, integrantes de entidades sindicais, estudantes, professores e professoras. As comprovações devem ser feitas no credenciamento do evento.

Serviço

  • O quê: Seminário “Em que mundo você vive: direito sem trabalho, trabalho sem direitos?”
  • Organização: Rede Lado
  • Local: Hotel Intercity Paulista (Rua Haddock Lobo, 294 – Cerqueira César, São Paulo/SP)
  • Datas: 7 e 8 de novembro, quinta e sexta-feira, das 10h às 17h
  • Inscrições: https://bit.ly/3yyij9O

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Brasileiros precisam lidar com precarização e estresse no ambiente de trabalhado

Brasileiros precisam lidar com precarização e estresse no ambiente de trabalhado

Estressados. Foi assim que 46% dos trabalhadores brasileiros se classificaram ao participar do mais recente estudo do State Of The Global Workplace (Estado do Ambiente de Trabalho Global, em tradução livre), realizado pela Gallup, consultoria especializada em análise comportamental no trabalho. Outros 25% dos respondentes se sentem tristes e 18%, com raiva – o Brasil é o 4º país da América Latina com maior índice de trabalhadores tristes e com raiva. Publicado em setembro deste ano, o estudo faz parte de uma pesquisa anual da Gallup. Pesquisadores ouviram cerca de 128 mil trabalhadores de mais de 160 países.

Condições precárias de trabalho podem ser um fator determinante para o surgimento de doenças físicas e mentais, como o burnout – Síndrome do Esgotamento Profissional –, que tem se tornado uma preocupação crescente no Brasil. A diretora técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), Adriana Marcolino, explica que as causas do burnout são multifatoriais e podem ser originadas por problemas como:

  • Longas jornadas de trabalho;
  • Aumento no ritmo de trabalho para cumprir metas e atender a pressões;
  • Assédios e relações antidemocráticas no ambiente de trabalho;
  • Instabilidade no vínculo empregatício;
  • Endividamento e empobrecimento da classe trabalhadora.

De acordo com a diretora, além do aumento dos diagnósticos de burnout, ainda há outra questão maior: a dificuldade do sistema público brasileiro em relacionar o adoecimento mental dos profissionais às condições de trabalho. “Muitas vezes os trabalhadores acabam perdendo seus empregos e não têm o amparo que deveriam ter pela legislação”, afirma Marcolino.

Desde 2022, o burnout é definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como síndrome ocupacional crônica, pois trata-se de um fenômeno ligado ao trabalho. A OMS também inclui essa síndrome na Classificação Internacional de Doenças (CID-11), um registro estatístico que reúne e organiza doenças e sintomas em categorias.

Precarização e adoecimento

Com a reforma trabalhista de 2017, que flexibilizou as relações de trabalho, os brasileiros encontram um mercado cada vez mais precarizado, fato que afeta também as centrais sindicais. Essa precarização é causada pela deterioração das condições de trabalho, e pode ser caracterizada por instabilidade, baixa remuneração, falta de direitos trabalhistas, e ausência de proteção social. Essa condição é frequentemente observada em setores como comércio, trabalho por aplicativos e plataformas online.

Segundo a coordenadora e professora do curso de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Francesca Columbu, mesmo que a CLT tenha mais de oitenta anos, os índices de informalidade e precarização sempre foram altos no Brasil. Columbu isso reitera a ideia de que a CLT nunca foi pensada para todos. Para frear o crescimento da precarização e, principalmente, proteger a saúde dos trabalhadores informais, a professora destaca que é preciso regulamentar o trabalho.

A pressão para lidar com demandas delicadas gera um desgaste com potencial de levar ao burnout. Os problemas relacionados à saúde mental também impactam o engajamento dos trabalhadores. Para a coordenadora, esse cenário tem profundas implicações, especialmente na saúde e no bem-estar daqueles que se encontram em situação de informalidade. Columbu ressalta que isso resulta em uma série de problemas que vão além do aspecto econômico. “A informalidade é um problema de saúde coletiva, física e, hoje, mental no país”, afirma a professora.

Necessidade de proteção

Com a finalidade de amparar aqueles que sofrem com problemas de saúde mental provocados por situações de trabalho, em julho deste ano foi determinado que trabalhadores terão a proteção da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que gerencia riscos ocupacionais. A determinação partiu da Comissão Tripartite Paritária Permanente (CTPP), um órgão do governo federal que discute e propõe melhorias para as condições de segurança e saúde no trabalho. A CTPP é composta por integrantes do governo, centrais sindicais e confederações de empregadores.

Agora, as empresas devem gerenciar seus ambientes de trabalho para evitar o adoecimento mental dos trabalhadores. As organizações são obrigadas a implementar medidas que evitem a sobrecarga de trabalho e promovam um ambiente mais saudável e livre de qualquer tipo de violência contra o trabalhador. O diretor do Departamento de Segurança no Trabalho, Rogério Araújo, afirma que, com o número crescente de denúncias de assédio no ambiente de trabalho, o governo tem se preocupado com a segurança dos trabalhadores e dado mais importância à saúde mental.

Para a diretora do DIEESE, é relevante também que todas essas estruturas que pensam nas questões laborais tenham uma política intersetorial, ou um plano de ação, para atuar de forma objetiva em relação à proteção da saúde física e mental dos trabalhadores. “A ideia das políticas de saúde para o trabalhador é agir antes de acontecer o problema, mas caso ele ocorra, também de você ter o amparo”, afirma.

Ainda segundo Marcolino, faz-se necessária a fiscalização e vigilância dos órgãos competentes para proteger os trabalhadores. Além disso, a atuação direta dos sindicatos nos ambientes de trabalho onde se originam os problemas pode ajudar os trabalhadores, apoiando-os em denúncias, na procura de meios para cuidar da sua saúde, e na negociação de cláusulas que melhorem o ambiente de trabalho, pontua a diretora.

Análise da precarização do trabalho

Questões pertinentes ao adoecimento dos trabalhadores e sua relação com a precarização do trabalho serão discutidas por Adriana Marcolino e Francesca Columbu estarão no primeiro painel do Seminário anual da Rede Lado. Com a temática “Em que mundo você vive: direito sem trabalho, trabalho sem direitos?”, o evento deste ano terá quatro painéis temáticos com a participação de estudiosos, advogados trabalhistas, representantes sindicais, entre outros.

O Seminário ocorrerá dias 7 e 8 de novembro, no Hotel Intercity Paulista, em São Paulo (SP), segue com inscrições abertas, que podem ser feitas pelo site Sympla, no valor de 400 reais a inteira. A meia-entrada é assegurada para pessoas aposentadas, integrantes de entidades sindicais, estudantes, professores e professoras. As comprovações devem ser feitas no credenciamento do evento.

Serviço

  • O quê: Seminário “Em que mundo você vive: direito sem trabalho, trabalho sem direitos?”
  • Organização: Rede Lado
  • Local: Hotel Intercity Paulista (Rua Haddock Lobo, 294 – Cerqueira César, São Paulo/SP)
  • Datas: 7 e 8 de novembro, quinta e sexta-feira, das 10h às 17h
  • Inscrições: https://bit.ly/3yyij9O

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Movimento reivindica revisão da CLT e alternativas para escala 6×1, com uma folga semanal

Movimento reivindica revisão da CLT e alternativas para escala 6×1, com uma folga semanal

Um novo movimento tem se popularizado e ampliado as discussões sobre escalas de trabalho no Brasil. O Movimento Vida Além do Trabalho (VAT) tenta abrir caminhos para a revisão da legislação trabalhista e maior proteção para os trabalhadores. A principal reivindicação é o fim da escala de trabalho 6×1, que tem implicações significativas para a vida pessoal e a saúde dos trabalhadores. Na escala 6×1, trabalhadores atuam por seis dias seguidos com apenas um dia de folga, comum em setores como comércio e serviços.

Ao dedicar seis dias em sequência para o trabalho, as pessoas podem encontrar dificuldades para equilibrar vida pessoal e profissional, além de problemas relacionados às saúdes física e mental. A sobrecarga de trabalho, caracterizada por jornadas prolongadas e poucos dias de descanso, é uma das causas da Síndrome de Burnout ou Síndrome do Esgotamento Profissional, cujos diagnósticos têm aumentado no Brasil..

O advogado trabalhista Espedito Fonseca, integrante da Rede Lado, destaca que com o avanço tecnológico as pessoas têm jornadas de trabalho maiores, sem definições de horários para atividades cotidianas. “A gente vive um movimento de que as pessoas estão trabalhando cada vez mais com esse mundo digital”, afirma Fonseca. “Aquela distribuição de oito horas para dormir, oito horas para lazer e oito horas para trabalhar está acabando. A jornada de trabalho está se diluindo ao longo das 24 horas”, completa.

A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) não especifica escalas, como a 6×1, mas estabelece regras gerais sobre jornadas e folgas. A CLT define a jornada de trabalho padrão em oito horas diárias e 44 horas semanais, mesma definição estabelecida no artigo 7° da Constituição Federal. Há exceções para algumas categorias profissionais, que têm jornadas específicas estabelecidas por lei ou acordo coletivo. A CLT também determina que todo empregado tem direito a descanso semanal remunerado de no mínimo 24 horas consecutivas, preferencialmente aos domingos. Existe a permissão para que o descanso seja concedido em outro dia da semana, desde que um período semanal esteja garantido.

Além do Trabalho

A fim de propor a revisão da CLT, surge em 2023 o VAT. O Movimento iniciou quando o então atendente de farmácia Ricardo Azevedo publicou uma série de vídeos de desabafo sobre sua intensa escala de trabalho. No primeiro post, publicado no TikTok, Azevedo incitava a revolução da classe trabalhadora contra a escala 6×1. O vídeo ultrapassou 500 mil visualizações e teve apoio de trabalhadores que viviam a mesma realidade.

Azevedo seguiu com a produção de vídeos com foco na organização do movimento, realizando manifestações e panfletagens para sensibilizar trabalhadores. Após a visibilidade das ações promovidas pelo atendente, em parceria com a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), foi lançada a petição online “Por um Brasil que Vai Além do Trabalho”. A petição ultrapassou a marca de 1,3 milhão de assinaturas e segue ativa. Mais que o fim da escala 6×1, organizadores pedem:

  • Debate público aberto e transparente com representantes de trabalhadores, empregadores e especialistas em direitos trabalhistas, a fim de encontrar soluções justas e viáveis para melhorar as condições de trabalho;
  • Criação de políticas de proteção ao trabalhador que garantam direitos e promovam a saúde física e mental dos profissionais;
  • Rigor nas fiscalizações para garantir o cumprimento das novas regulamentações e punir empresas que desrespeitem direitos trabalhistas;
  • Implementação de alternativas para criação de jornadas de trabalho mais equilibradas, que permitam aos trabalhadores desfrutarem de mais tempo para suas vidas pessoais.

A luta pela mudança das escalas de trabalho não está restrita ao VAT. Outros movimentos organizados dentro e fora do Brasil visam a redução das jornadas. Por exemplo, o movimento estadunidense Antiwork – ou Antitrampo, como foi batizado no Brasil – surgiu durante a pandemia de Covid-19, na rede social Reddit. Por meio da comunidade online, o coletivo reúne histórias pessoais de trabalhadores, tenta oferecer meios para mudar locais de trabalho hostis, aconselhamento legal para movimentos grevistas, e orientações para que pessoas possam advogar em causa própria.

Além das mobilizações online, as centrais sindicais brasileiras têm tradição nas reivindicações por redução da jornada de trabalho. Em 2003, com apoio do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), centrais sindicais iniciaram a Campanha Nacional pela Redução da Jornada, que visava a redução de 44 para 40 as horas semanais trabalhadas, sem redução salarial. Mesmo que a Proposta de Emenda Constitucional pela redução tenha sido barrada na Câmara dos Deputados, as centrais sindicais reafirmam a necessidade social de reduzir as jornadas de trabalho.

Semana de quatro dias

Em contraste com a escala 6×1, a proposta de uma jornada 4×3 – com quatro dias trabalhados seguidos por três de descanso – tem se mostrado uma alternativa atraente. Tal abordagem pode ampliar a satisfação no trabalho, melhorar a saúde mental e aumentar a produtividade, demonstram estudos. Ao reduzir a carga horária semanal, os trabalhadores podem se recuperar adequadamente, e isso se reflete em um desempenho mais eficiente durante os dias de trabalho, além – e principalmente – de proporcionar um equilíbrio mais saudável entre a vida pessoal e profissional.

Com mais tempo livre, os trabalhadores podem se dedicar a atividades pessoais, familiares e de lazer. Além disso, essa forma de trabalho tem mostrado potencial para reduzir o estresse e a incidência de burnout, problemas que são comuns entre aqueles que enfrentam uma rotina desgastante, como a da escala 6×1. Entretanto, a transição para uma jornada de quatro dias não é isenta de desafios e precisa ser testada.

O modelo de escala de trabalho 4×3 já foi implementado em alguns países. Em projetos-piloto conduzidos no Reino Unido, os trabalhadores experimentaram uma semana de trabalho reduzida sem diminuição salarial. O projeto durou seis meses e foi aplicado em 61 empresas de diferentes setores – como de comércio e de tecnologia. Os trabalhadores afirmaram estar menos estressados e ansiosos, que passaram a ter mais tempo para atividades físicas, lazer e convívio familiar, e que economizaram dinheiro, pois os gastos com transporte e creche para os filhos foram reduzidos. As empresas observaram aumento na produtividade e de 35% no faturamento, visto que os trabalhadores descansados renderam mais. Das companhias, 56 afirmaram que manteriam a alteração na jornada temporariamente e 18 a tornaram permanente.

No Brasil, a semana de quatro dias já é realidade em algumas empresas e está em fase de teste em outras. O projeto-piloto foi aplicado no país pela organização sem fins lucrativos 4 Day Week Global (Semana Global de 4 dias, em tradução livre), que desenvolveu projetos semelhantes na Europa e na Nova Zelândia. A maioria das empresas brasileiras participantes são do setor de tecnologia. Como no caso europeu, observou-se nos trabalhadores a redução do estresse e ansiedade, mais tempo para vida pessoal e aumento da motivação. Porém, o experimento ainda está restrito a poucas organizações, devido à viabilidade econômica e ao tipo de atividade realizada.

Em entrevista concedida ao jornal Brasil de Fato, o diretor executivo da campanha 4 Day Week Global, Joe O’Connor, aponta que a diminuição da jornada de trabalho para quatro dias pode também reduzir as emissões de carbono. Com menos horas trabalhadas, o deslocamento seria menor e o gasto com energia diminuiria.

Em Portugal, que também aplicou o projeto-piloto da 4 Day Week Global, economistas veem com ceticismo a adoção em massa da escala 4×3, devido à especificidade de alguns setores. Sobre o caso brasileiro, Espedito Fonseca aponta dificuldades e caminhos. “A gente tem uma contrariedade do mundo do capital bem grande. Eles [empresários] gostariam se pudessem aumentar o número de horas trabalhadas”, afirma Fonseca.

O advogado trabalhista pondera que, primeiro, é necessário unir a classe trabalhadora e pensar em alternativas mais viáveis, como uma proposta de escala 5×2 – cinco dias de trabalho seguidos por dois de descanso – antes de pressionar pela escala 4×3. Isso porque a adaptação das empresas à escala de trabalho 4×3 pode demandar mudanças significativas em processos e estruturas organizacionais.

A diminuição da jornada pode gerar empregos, por um lado, mas reduzir a receita das empresas, por outro, o que dificultaria a sustentabilidade de empreendimentos de pequeno e médio porte que funcionam em horários específicos, como restaurantes e centros de saúde. O debate em torno das possibilidades não se restringe a movimentos independentes. Exemplo disso é o fato de que, atualmente, há três propostas para a redução da jornada de trabalho em análise no Senado brasileiro.

Precarização do trabalho em pauta

De modo interdisciplinar, para analisar a realidade atual do mercado de trabalho brasileiro, a Rede Lado promove em novembro deste ano a terceira edição de seu Seminário anual. Com a temática “Em que mundo você vive: direito sem trabalho, trabalho sem direitos?”, o evento terá quatro painéis temáticos e contará com a participação de estudiosos, advogados trabalhistas, representantes sindicais, entre outros. Cada painel abordará um aspecto da precarização do trabalho, incluindo os desafios das escalas de trabalho.

O Seminário ocorrerá dias 7 e 8 de novembro, no Hotel Intercity Paulista, em São Paulo (SP), segue com inscrições abertas, que podem ser feitas pelo site Sympla, no valor de 400 reais a inteira. A meia-entrada é assegurada para pessoas aposentadas, integrantes de entidades sindicais, estudantes, professores e professoras. As comprovações devem ser feitas no credenciamento do evento.

Serviço

  • O quê: Seminário “Em que mundo você vive: direito sem trabalho, trabalho sem direitos?”
  • Organização: Rede Lado
  • Local: Hotel Intercity Paulista (Rua Haddock Lobo, 294 – Cerqueira César, São Paulo/SP)
  • Datas: 7 e 8 de novembro, quinta e sexta-feira, das 10h às 17h
  • Inscrições: https://bit.ly/3yyij9O

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Novas formas de trabalhos sugerem necessidade de um novo caminho para o Direito do Trabalho

Novas formas de trabalhos sugerem necessidade de um novo caminho para o Direito do Trabalho

Nos últimos anos, as transformações no mercado de trabalho têm exigido uma reflexão profunda sobre direitos trabalhistas. Novas formas de trabalho, como remoto ou híbrido e por aplicativos e plataformas digitais de serviço, ficaram mais populares. Essas transformações demandam outros tipos de abordagens para a proteção dos direitos dos trabalhadores e desafiam a estrutura tradicional da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

A defesa da CLT deve ser priorizada, mas isso não significa que ela deve permanecer inalterada. As novas formas de trabalho trazem à tona a necessidade de ampliar a abrangência da CLT, para que as leis contemplem trabalhadores autônomos e os que se encontram em situações de informalidade – aqueles cuja as relações de trabalho estão à margem das regras da CLT ou não têm Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ). Há cerca de 40 milhões de trabalhadores informais no país, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Para entender melhor o que leva os trabalhadores a entrarem na informalidade, o Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (FGV-IBRE), os classifica em duas categorias:

  • Por vontade própria: se tornaram autônomos para ter mais independência, flexibilidade no trabalho, e oportunidade de começar um negócio próprio;
  • Por necessidade: aqueles que estão desempregados e precisam de renda; os que têm dificuldade em conseguir emprego, seja com salário mais atrativo ou em sua área de atuação.

Mesmo que milhões de pessoas estejam entre essas duas categorias, pesquisa da FGV aponta que 67,7% desses trabalhadores gostariam de ter carteira assinada. Com o emprego CLT, a insegurança financeira diminui e os trabalhadores passam a ter seus direitos trabalhistas assegurados e maior facilidade de representação por meio dos sindicatos.

Adaptar a legislação para que ela abarque a realidade atual do mercado de trabalho, com propostas que contemplem as novas formas de trabalho, pode ser um caminho para frear o aumento da informalidade. Um exemplo é a regulamentação de aplicativos e plataformas digitais de serviços, que segue em tramitação no Congresso Nacional e poderia garantir maior proteção aos trabalhadores, evitando a exploração e a precarização.

Para efetivar uma atualização da CLT, o diálogo aberto entre sociedade civil, sindicatos, empresas e legisladores pode garantir que as novas legislações atendam às reais necessidades dos trabalhadores. Os movimentos sociais, organizações sindicais e coletivos têm um papel crucial na luta pela defesa dos direitos trabalhistas. Com Convenções Coletivas de Trabalho (CCT), a mobilização pode assegurar que as vozes dos trabalhadores sejam ouvidas. Além disso, campanhas de sensibilização e educação sobre os direitos trabalhistas podem empoderar os trabalhadores e fortalecer a luta por condições dignas de trabalho.

“Pejotização” como fraude

As discussões sobre fraudes no mercado de trabalho ganharam destaque nos últimos anos. Especialmente desde a reforma trabalhista de 2017, que flexibilizou as relações de trabalho e, desde então, a prática da contratação de profissionais autônomos, como Pessoas Jurídicas (PJs) aumentou. Esse modelo de contratação é adotado para reduzir custos de encargos sociais e trabalhistas, que são obrigatórios em contratações celetistas; ao mesmo tempo, isso afasta dos trabalhadores direitos assegurados pela CLT, como férias programadas, FGTS e seguro-desemprego.

Na contratação PJ não há vínculo empregatício específico, ela ocorre a partir do firmamento de acordo comum entre empresas, sendo que uma prestará serviço para a outra. Para que uma pessoa se torne PJ basta ter um Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ), seja como Microempreendedor Individual (MEI), ou em outra categoria. Esses profissionais autônomos exercem atividades de forma independente, sem vínculo empregatício. Eles têm a liberdade de gerenciar seu tempo e escolher seus projetos. No entanto, essa autonomia não deve ser confundida com a ausência de direitos.

É comum que trabalhadores contratados como PJ exerçam funções com características típicas de um empregado celetista, como subordinação, horário fixo e controle de atividades, mas sem os direitos trabalhistas que deveriam lhe ser garantidos. Esse tipo de contratação pode ser considerada uma fraude quando o objetivo é mascarar uma relação de emprego que desvirtua a legislação trabalhista. Em caso de fiscalização, as empresas podem ser responsabilizadas e obrigadas a regularizar a situação, arcando com custos retroativos e multas.

A advogada e doutoranda em Ciências Jurídicas e Políticas, Monya Tavares, aponta que a conscientização coletiva e a ação sindical, alinhadas à atuação da fiscalização administrativa do trabalho e do controle jurisdicional, são as saídas mais efetivas para enfrentar esse panorama. “Em suma, a questão depende de um processo de politização dos trabalhadores, para que possam, afinal, resistir aos engodos da exploração que sofrem, com capacidade de impulsionar alternativas de luta em busca da dignidade fundamental que o sindicalismo, a Constituição e a lei trabalhista representam”, afirma Tavares.

É possível denunciar fraudes trabalhistas. A denúncia deve ser feita nas Procuradorias Regionais do Trabalho, do Ministério Público do Trabalho (MPT), órgão que atua na defesa dos direitos coletivos e individuais na área trabalhista. As denúncias podem ser feitas presencialmente nas Procuradorias, ou por ligação telefônica e online pelo site: www.mpt.gov.br, de forma anônima ou não.

Direitos trabalhista para autônomos

Para além dos casos de fraude, com o aumento da informalidade e o crescimento da Economia Gig – em que o trabalho é feito a partir de demandas, como motorista de aplicativos e entregadores –, a necessidade de garantir condições dignas de trabalho para esses profissionais tornou-se urgente. Trabalhadores autônomos, como domésticos e prestadores de serviços, enfrentam desafios únicos, como a falta de garantias de renda e a ausência de proteção social.

Criar uma estrutura legal que ofereça proteção mínima a esses profissionais, como a formalização de contratos claros, que definam direitos e deveres e a garantia de remuneração justa, pode ajudar a evitar a exploração dos trabalhadores. Além disso, a adesão a sistemas de previdência e seguros pode ser uma medida importante para assegurar proteção em casos de doença ou incapacidade.

Para estimular o público a pensar em caminhos possíveis para o mercado de trabalho, o Seminário “Em que mundo você vive: direito sem trabalho, trabalho sem direitos?”, promovido pela Rede Lado, traz em seu quarto e último painel análises e reflexões sobre como os direitos trabalhistas podem alcançar os milhões de trabalhadores autônomos brasileiros. O painel terá a participação de Monya Tavares, advogada do escritório Mauro Menezes & Advogados nos Tribunais Superiores e doutoranda em Ciências Jurídicas e Políticas na Universidad Pablo de Olavide (Sevilla, Espanha), de José Eymard Loguercio, sócio e advogado do escritório LBS Advogadas e Advogados nos Tribunais Superiores e mestre em Direito pela Universidade de Brasília e de Nasser Ahmad Allan que é sócio e advogado do escritório GASAM e Doutor em Direito pela Universidade Federal do Paraná.

Tavares explica que o quarto painel também tem como objetivo refletir sobre a “fuga do direito do trabalho”. Segundo ela, fenômeno inconstitucional e desumano que resulta na privação dos direitos dos trabalhadores autônomos. “A realidade de um trabalho convertido em mercadoria desprovida de direitos traduz uma situação insustentável socialmente, que potencializa a exploração mão-de-obra, retrocedendo sua contratação a modelos de pura autonomia individual da vontade”, conclui.

PAINEL 4 – “Nada deve parecer natural: saídas possíveis para o mundo do trabalho”

  • Proposições, especialmente práticas, para além da dicotomia empregado x autônomo;
  • Será que novas formas de trabalho também precisam de novas tutelas?
  • Os trabalhadores autônomos formam mais de 40 milhões de pessoas no Brasil, como alcançar essa população?
  • O que o Direito do Trabalho pode propor como instrumento da proteção dessas classes trabalhadoras?

O Seminário ocorrerá dias 7 e 8 de novembro, no Hotel Intercity Paulista, em São Paulo (SP), e está com inscrições abertas, que podem ser feitas pelo site Sympla, no valor de 400 reais a inteira. A meia-entrada é assegurada para pessoas aposentadas, integrantes de entidades sindicais, estudantes, professores e professoras. As comprovações devem ser feitas no credenciamento do evento.

Serviço

  • O quê: Seminário “Em que mundo você vive: direito sem trabalho, trabalho sem direitos?”
  • Organização: Rede Lado
  • Local: Hotel Intercity Paulista (Rua Haddock Lobo, 294 – Cerqueira César, São Paulo/SP)
  • Datas: 7 e 8 de novembro, quinta e sexta-feira, das 10h às 17h
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Precarização do mercado de trabalho afeta a representação sindical e expõe a necessidade de readequação da CLT

Precarização do mercado de trabalho afeta a representação sindical e expõe a necessidade de readequação da CLT

As discussões sobre o futuro do mercado de trabalho passam pela dicotomia entre ser empreendedor e trabalhador. Nos empregos formais, trabalhadores têm seus direitos garantidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), mas podem se deparar com ambientes inflexíveis. Já o ato de empreender sugere uma sensação de autonomia e inovação, porém tende a esconder riscos e instabilidades. Em comum, trabalhador e empreendedor encaram desafios e uma crise de representação causada por questões políticas e econômicas.

A visibilidade dos cases de sucessos de startups que se tornaram bilionárias e a idealização de que não há idade certa para começar a empreender parecem atraentes para aqueles que buscam por independência financeira e crescimento profissional. No entanto, a ideia de que qualquer pessoa pode ser bem-sucedida empreendendo é uma simplificação da realidade. Altos índices de falência, instabilidade financeira e estresse acompanham a vida empreendedora. Um ponto importante que muitas vezes é negligenciado nessa dicotomia são as desigualdades estrutural e social, além da falta de acesso a recursos materiais e financeiros. Além disso, a capacidade de criar um empreendimento bem-sucedido, na maioria dos casos, está diretamente ligada ao capital disponível, redes de contato e oportunidades de formação, fatores que estão muitas vezes restritos a uma minoria privilegiada.

Em contraponto, “trabalhadores tradicionais” seguem sendo aqueles que buscam por uma opção mais segura e estável, mesmo com autonomia limitada. Embora o emprego na empresa de outra pessoa ofereça salários fixos e recorrentes, benefícios e acesso aos direitos trabalhistas, a modalidade também pode impor um ambiente de trabalho rígido e uma sensação de falta de propósito ou crescimento profissional.

Com um mercado de trabalho cada vez mais precarizado, desde a aprovação da reforma trabalhista de 2017, no governo do ex-presidente Michel Temer (MDB), cresce a cada ano a quantidade de trabalhadores autônomos e informais no Brasil. Os trabalhadores formais enfrentam insegurança no emprego, falta de benefícios e uma luta constante para se manterem relevantes em meio às mudanças correntes, além da crise na representação sindical. Pesquisadores do IBGE consideram que a reforma trabalhista de 2017 pode ter impactado a sindicalização. Quanto menor o número de filiados, mais difícil se tornam a sustentabilidade dos sindicatos e, consequentemente, a representação das categorias.

Superação das categorias celetistas

O avanço tecnológico, a globalização e as mudanças nas dinâmicas econômicas têm originado novas formas de trabalho que não se encaixam nas categorias celetistas – cujo contrato é regido pelas regras da CLT. Historicamente, essas categorias definiram os direitos e deveres dos trabalhadores no Brasil e são estruturadas para um modelo de trabalho assalariado e formal, geralmente com vínculo empregatício registrado.

Os trabalhadores das categorias celetistas também podem contar com o apoio dos sindicatos. Estes lutam para garantir o cumprimento dos direitos trabalhistas e podem auxiliar os trabalhadores a conquistarem direitos e benefícios diferenciados por meio de acordos e convenções coletivas. A filiação dos trabalhadores aos sindicatos pode fortalecer a atuação das associações e aumentar a representação das categorias.

As atividades empreendedoras autônomas estão entre as novas formas de trabalho que não se enquadram facilmente nas definições clássicas de empregado e empregador, como o home office e o trabalho por demanda. A superação das categorias celetistas envolve um reconhecimento e uma adaptação a essas novas realidades para que a regulamentação do mercado de trabalho seja mais inclusiva. Isso pode significar a criação de novos paradigmas legais que contemplem:

  • Trabalhadores autônomos – que atuam de forma independente, muitas vezes em regime de contratos temporários ou projetos específicos;
  • Trabalhadores por aplicativos e plataformas digitais – que oferecem serviços por demanda, com remuneração variável e condições de trabalho instáveis;
  • Trabalhadores remotos – que trabalham de casa ou de forma híbrida, o que desafia as noções tradicionais de local e jornada de trabalho.

A adaptação das leis trabalhistas às novas realidades do mercado pode representar um avanço significativo na proteção dos direitos dos trabalhadores, ao mesmo tempo que fomenta a inovação e a flexibilidade econômica. Segundo Bianca Garbelini, Diretora de Juventude da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro, da Central Única dos Trabalhadores (CONTRAF-CUT), para avançar nessa superação, o diálogo entre trabalhadores, empregadores, sindicatos, legisladores e especialistas em Direito do Trabalho possibilitaria a construção de um sistema que reconheça e respeite as diversidades dos formatos de trabalho, garantindo proteção e direitos para todos os envolvidos.

Reestruturação sindical

Com a reforma trabalhista de 2017, que flexibilizou o mercado de trabalho e simplificou as relações trabalhistas, e os anos de governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), quando o índice de desemprego chegou a atingir 14,2%, o número de trabalhadores filiados a sindicatos diminuiu, o que impacta diretamente na representação dos profissionais e na sustentabilidade das associações. Ao final de 2022, menos de 10 milhões de trabalhadores estavam sindicalizados.

De acordo com a Diretora de Juventude da CONTRAF-CUT, até mesmo os sindicatos que tradicionalmente tinham uma grande base de sindicalizados tiveram perdas e passaram a se preocupar mais com sua sustentabilidade. “Não é uma preocupação somente do ponto de vista financeiro, mas simbólico. Objetivamente, um sindicato não existe sem a sua base”, afirma.

Para Bianca Garbelini, com este cenário de diminuição no número de sindicalizados, é necessário repensar as estruturas sindicais, com novas formas de representação que façam sentido dentro da realidade brasileira contemporânea. “Quase metade dos trabalhadores brasileiros são informais, são microempreendedores individuais, são pessoas que não estão dentro do escopo da CLT. Não estamos conseguindo representar essas pessoas, porque temos essa estrutura engessada”, explica. “Para representar efetivamente trabalhadores brasileiros, a gente vai precisar de mudanças culturais, legais, a gente vai precisar tratar das Leis Trabalhistas e mexer na forma de representação dos sindicatos”, completa.

Ainda segundo Garbelini, para que os sindicatos se fortaleçam, é importante que haja diálogo entre os mais jovens. Isso porque os jovens reconhecem a importância dos sindicatos, mas ainda não desejam participar das associações por falta de identificação. “Essa nova geração de trabalhadores vêm dando uma importância para temas que antes ficavam secundarizados. Por exemplo, a pauta feminista, a pauta LGBTQIA+, a pauta racial, a pauta da pessoa com deficiência. A gente precisa olhar para todos esses públicos enquanto classe trabalhadora e entender que as necessidades desses públicos são diferentes”, explica a Diretora de Juventude da CONTRAF-CUT.

Bianca Garbelini é uma das painelistas convidadas para o seminário “Em que mundo você vive: direito sem trabalho, trabalho sem direitos?”, promovido pela Rede Lado. Presente no terceiro painel do evento, Garbelini abordará as possibilidades para superação das categorias celetistas, além das novas representações dos trabalhadores e a reorganização da estrutura sindical brasileira.

PAINEL 3 – “Primeiro levaram a CLT, mas não me importei”: a crise de representatividade dos trabalhadores”

  • Debate e construção de panoramas para a reorganização sindical brasileira, a fim de conformar sua estrutura à realidade atual do mundo do trabalho;
  • abordagem às novas representações dos trabalhadores (seja de movimentos sociais, de cooperativas ou até de movimentos menos organizados);
  • e a evidente “superação” das categorias celetistas.

O seminário “Em que mundo você vive: direito sem trabalho, trabalho sem direitos?” ocorre nos dias 7 e 8 de novembro, no Hotel Intercity Paulista, em São Paulo (SP). As inscrições já estão abertas e podem ser feitas pelo site Sympla, no valor de 400 reais a inteira. A meia-entrada é assegurada para pessoas aposentadas, integrantes de entidades sindicais, estudantes, professores e professoras. As comprovações devem ser feitas no credenciamento do evento.

Serviço

  • O quê: Seminário “Em que mundo você vive: direito sem trabalho, trabalho sem direitos?”
  • Organização: Rede Lado
  • Local: Hotel Intercity Paulista (Rua Haddock Lobo, 294 – Cerqueira César, São Paulo/SP)
  • Datas: 7 e 8 de novembro, quinta e sexta-feira, das 10h às 17h
  • Inscrições: https://bit.ly/3yyij9O

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Chegada da Geração Z ao mercado de trabalho é marcada pelo fenômeno dos conflitos geracionais e a falta de oportunidades formais

Chegada da Geração Z ao mercado de trabalho é marcada pelo fenômeno dos conflitos geracionais e a falta de oportunidades formais

Com um mercado de trabalho cada vez mais jovem, a transformação nas relações profissionais é notável. O desejo por um modelo de trabalho diferente, que se alinhe mais às expectativas pessoais, deixa a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que por décadas foi vista como base para segurança e garantia de direitos, não mais tão desejada a todo custo por jovens trabalhadores.

Tal fato não significa que há uma aversão à CLT, mas uma forma de resistência à submissão no ambiente de trabalho. Especialmente para jovens da Geração Z, nascidos de 1995 a 2010 e considerados nativos digitais, que cresceram em um ambiente globalizado e com acesso tecnológico facilitado. A busca é por empresas e locais de trabalho que vão ao encontro de valores pessoais, com rotinas menos exaustivas e oportunidades que dão mais significado ao vínculo empregatício, aspectos ponderados junto com jornada de trabalho e remuneração.

Para jovens da Geração Z, o modelo de vínculo empregatício regido pela CLT, com pouca flexibilidade, parece ultrapassado. É o que aponta o “Report Geração Z e o Futuro do Trabalho”, relatório produzido pela consultoria Subversiva, que faz uma análise sobre as relações de trabalho das pessoas nessa faixa etária. Ambientes de trabalho que promovam a criatividade, ofereçam autonomia, equilíbrio entre vida pessoal e profissional, e oportunizem bem-estar e qualidade de vida se destacam para esses trabalhadores.

Com a entrada desses jovens no mercado de trabalho, o fenômeno dos conflitos geracionais tem sido pautado com mais frequência. Enquanto os jovens são guiados por propósitos, as gerações anteriores preferem consolidar uma carreira. Para Thatiana Capellano, mestre em Ciência Sociais pela Pontifícia Universidade Católica (PUC/SP) e sócia-fundadora da 4CO Comunicação e Cultura Organizacional, isso não significa que aderir ou não à CLT é uma questão geracional. “Não é o jovem que está em conflito com o mercado de trabalho, porque ele nem lá está”, afirma.

Segundo Cappellano, os conflitos geracionais não devem ser tratados como problemática única da Geração Z, pois os desafios encontrados no mercado de trabalho são estruturais. “O mundo do trabalho não corresponde mais àquilo que historicamente foi, discursivamente, construído para nós como uma verdade inabalável, que: o mundo do trabalho é um lugar onde você encontrará realização pessoal e ascensão econômica”, diz Cappellano. “Essa idealização do trabalho está fadada a cair por completo, e não apenas para Geração Z, mas de modo generalizado. É preciso olhar os fenômenos como sintomas”, completa.

Oportunidades precárias

Encontrar empregos que oferecem melhores condições de trabalho não é simples, e, para muitos jovens, conseguir qualquer oportunidade profissional ainda é uma realidade distante. Somente no primeiro trimestre de 2024, o Brasil tinha 4,6 milhões de jovens que não estudam e nem trabalham – os chamados nem-nem –, aponta estudo do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Nesse montante de jovens sem ocupação, 65% são negros e 51% são mulheres. Em particular no caso de parcela das mulheres negras de baixa renda, são mulheres que precisam abandonar os estudos para auxiliar as mães nos cuidados domésticos e de irmãos ou parentes mais novos. Por outro lado, cresce o número de jovens que estão em trabalhos informais ou autônomos, como motorista de aplicativos, entregadores e Microempreendedores Individuais (MEIs). O IBGE aponta que 41% dos jovens entre 14 e 24 anos, cerca de 34 milhões de pessoas, estão nessas condições. A maior parte desses trabalhadores estão na região Sudeste, 39%.

De acordo Thatiana Capellano, no início dos anos 2000, os jovens, especialmente os que estavam em situação de vulnerabilidade social, encontravam nas vagas de atendimento ao público, como em call centers e no varejo, a porta de entrada para o mercado de trabalho. Capellano diz que apesar da precariedade das condições de trabalho dessas vagas, os jovens tinham seus direitos trabalhistas assegurados pela CLT. “De alguma maneira, os jovens encontravam nesses lugares uma certa segurança, porque eles conseguiam ter a carteira assinada e a garantia mínima dos seus direitos”, continua.

Cappellano ainda explica que, atualmente, com o crescimento da plataformização – como o trabalho por aplicativos de serviços –, os jovens têm utilizado os meios digitais para obter sua primeira experiência profissional. Mas, segundo ela, esse modelo de trabalho, sem estrutura organizacional, com poucas possibilidades de aprendizado a longo prazo, não oferece boas perspectivas para os jovens. “Depois dessas semanas, meses, pedalando, como que a gente coloca ele [o jovem] em algum tipo de vaga um pouco mais estruturada?”, aponta, referindo-se aos jovens que trabalham por meio de aplicativos de entrega.

A inserção no mercado de trabalho por meio da informalidade ou de ações de empreendedorismo individual por necessidade são estratégias para superar a falta de boas oportunidades formais. Com a reforma trabalhista de 2017, o número de MEIs cresceu 103% entre 2017 e 2023, superando 15,7 milhões, aponta o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), com base em estatísticas do governo federal. Isso ocorre devido à flexibilização do mercado de trabalho e à liberação da terceirização em qualquer tipo de atividade – antes da reforma, não era permitido terceirizar pessoas atuando na atividade-fim das organizações.

Sete anos após a reforma trabalhista, 70% dos trabalhadores autônomos, principalmente os que têm renda de até três salários mínimos, desejam empregos com carteira assinada, aponta o Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Ibre). Mas a qualidade e quantidade das vagas disponíveis aproximam os trabalhadores da informalidade. Para reter talentos e atrair os jovens, é necessária a melhora nas condições de trabalho, geração de empregos e adaptação das vagas ofertadas para incorporar mais flexibilidade e opções equilibradas entre vida pessoal e profissional.

Desde a reforma trabalhista, observa-se também o crescimento do trabalho intermitente, um tipo de vínculo que se assemelha ao temporário ou aprendiz. Chama-se intermitente porque o trabalhador somente exerce sua função quando é convocado pelo empregador e recebe proporcionalmente às horas trabalhadas, sem qualquer garantia de periodicidade de salário. De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do MTE, 5,86% das vagas de emprego com carteira assinada criadas em 2023 foram de trabalho intermitente. Em 2021, eram 3,33%, enquanto em 2022, representavam 4,41% do total das vagas CLT.

Para analisar de forma interdisciplinar o perfil da nova geração de trabalhadores, o segundo painel do seminário “Em que mundo você vive: direito sem trabalho, trabalho sem direitos?”, promovido pela Rede Lado, convida Thatiana Cappellano, mestre em Ciência Sociais pela PUC/SP e Especialista em Semiótica Psicanalítica. O painel também abordará a subordinação nos empregos via CLT, os conflitos geracionais e as perspectivas para o mercado de trabalho:

PAINEL 2 – “Direito sem trabalho, trabalho sem direitos?”

  • Observação sociológica e empírica sobre a crise que ocorre entre as classes trabalhadoras em relação à disputa submissão x subordinação no emprego via CLT;
  • e os motivos que causam conflitos geracionais por conta disso.

O seminário “Em que mundo você vive: direito sem trabalho, trabalho sem direitos?” ocorre nos dias 7 e 8 de novembro, no Hotel Intercity Paulista, em São Paulo (SP). As inscrições já estão abertas e podem ser feitas pelo site Sympla, no valor de 400 reais a inteira. A meia-entrada é assegurada para pessoas aposentadas, integrantes de entidades sindicais, estudantes, professores e professoras. As comprovações devem ser feitas no credenciamento do evento.

Serviço

  • O quê: Seminário “Em que mundo você vive: direito sem trabalho, trabalho sem direitos?”
  • Organização: Rede Lado
  • Local: Hotel Intercity Paulista (Rua Haddock Lobo, 294 – Cerqueira César, São Paulo/SP)
  • Datas: 7 e 8 de novembro, quinta e sexta-feira, das 10h às 17h
  • Inscrições: https://bit.ly/3yyij9O

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