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Greve – Catarina Sobral

Greve – Catarina Sobral

GREVE é o livro de estreia da ilustradora Catarina Sobral e também o primeiro título de uma autora portuguesa na colecção Orfeu Mini.

Um dia, os pontos decretaram greve. Os pontos? Quais pontos? TODOS os pontos! Primeiro, foi a escrita foi a colapsar… Nas escolas, nos museus, nas fábricas, nos hospitais, ninguém se entendia. O ponto de fuga desapareceu. E o ponto verde. E o ponto de encontro. Tudo e todos chegavam atrasados. E era impossível fazer o ponto da situação. Até que…

PRÉMIO NACIONAL DE ILUSTRAÇÃO 2012 Menção Especial

Editoria Orfeu Negro

E foi assim que eu e a escuridão ficamos amigas – Emicida

E foi assim que eu e a escuridão ficamos amigas – Emicida

O medo às vezes nos paralisa, e para superá-lo é preciso coragem e determinação — mas pode gerar boas surpresas. É o que Emicida conta, por meio de versos, em seu segundo livro infantil.

Uma menina tem medo da Escuridão. Quando chega a noite, vem a preocupação e a ansiedade: afinal, o que o escuro pode esconder? O que ela nem imagina é que, do outro lado, a Escuridão também é uma menina — cujo maior medo é a claridade, e todo tipo de coisa que se revela quando nasce o sol.
Em seu segundo livro, Emicida faz uso da narrativa poética e ritmada que encantou os leitores em Amoras, dessa vez para explorar um tema que nos acompanha durante toda a vida: o medo do desconhecido. Ao longo dessas páginas, ilustradas por Aldo Fabrini, as duas meninas vão descobrir que enfrentar os próprios medos pode — quem diria? –, nos transformar por dentro e por fora.

“O Emicida tem uma gostosa mania:
Falar (e escrever) tudo rimado.
Mostra que o medo não tem vilania,
É somente um homem preocupado.

Este livro também trata de coragem.
Tem um texto tão bonito que assim diz:
Estou trazendo a você boa mensagem:
Nunca tenha medo de ser feliz.”

— Mauricio de Sousa

Livro indicado para leitores a partir de 4 anos.

Editora Companhia das Letras

Amoras – Emicida

Amoras – Emicida

Em seu primeiro livro infantil, Emicida conta uma história cheia de simplicidade e poesia, que mostra a importância de nos reconhecermos nos pequenos detalhes do mundo.

Na música “Amoras”, Emicida canta: “Que a doçura das frutinhas sabor acalanto/ Fez a criança sozinha alcançar a conclusão/ Papai que bom, porque eu sou pretinha também”. E é a partir desse rap que um dos artistas brasileiros mais influentes da atualidade cria seu primeiro livro infantil e mostra, através de seu texto e das ilustrações de Aldo Fabrini, a importância de nos reconhecermos no mundo e nos orgulharmos de quem somos — desde criança e para sempre.

“Um livro que rega as crianças com o olhar cristalino de quem sonha plantar primaveras para colher o fruto doce da humanidade.” — Sérgio Vaz

Editora Companhia das Letras

Para homem ler

Para homem ler

Todo homem, em algum momento da vida, já ouviu:

“Isso aqui não é coisa de homem, deixa comigo!”

“Saindo sozinho? Terminou o namoro?”

“Deve ser aquele período do mês ou brigou com a esposa”

“Como assim você não quer casar? Nunca?”

 

No âmbito profissional não é diferente, que homem nunca ouviu:

“Que carinha de jovem! Você é estagiário?”

“Se trabalhasse sorrindo ficaria mais bonito!”

“Você está falando muito alto, parece um maluco”

“O atendimento não era com aquela outra advogada, querido?”

“Quantos anos você tem mesmo?”

“Ainda bem que é bonito!”

 

E não para por aí! Que homem nunca parou para tomar uma com os amigos e ouviu:

“Estou exausto!”

“É ‘pai’ pra lá, ‘pai’ pra cá, tudo eu”

“Ainda bem que ela não veio, só fica me encarando”

“Não me sinto bem nesse lugar”

 

Soou estranho? Deveria sempre soar.

O machismo e a realidade

O machismo e a realidade

 

“Isso não é machismo, isso é a realidade”. Eu gostaria de ter fantasiado essa frase, mas, infelizmente, ela é um bordão utilizado por certo influenciador digital para justificar suas falas misóginas, alegando que elas não podem ser consideradas machistas, porque são mera descrição da realidade. O influenciador se apresenta como representante do “movimento red pill”. Eu também gostaria de ter fantasiado esse movimento, mas, infelizmente, ele existe. Segundo seus adeptos, é um movimento de homens que diz estar descobrindo que as mulheres são favorecidas e eles são prejudicados.

Esse influenciador, autor de pérolas como dizer que uma das razões da infelicidade das mulheres é que elas não querem servir aos homens, foi recentemente ironizado por uma atriz que postou nas suas redes sociais uma sátira de joias como essa. A resposta do influenciador foi, ao mesmo tempo, chocante e óbvia. Ele enviou mensagem pessoal à atriz: “Você tem 24 horas para retirar seu conteúdo sobre mim. Depois disso é processo ou bala”.

Essa mensagem configura, em tese, crime de ameaça e esse crime tem que ser apurado e, se comprovada sua ocorrência, punido—a despeito da tragicômica tentativa do influenciador de se justificar, em vídeo que publicou nas suas redes sociais, alegando que ao usar a palavra “bala”, ele não queria dizer bala de revólver, ele quis dizer, na verdade, “mete bala”, “mete marcha”, no sentido de “vamos resolver essa questão”.

De todo modo, o que essa história mostra bem está simbolizada no bordão do influenciador: “isso não é machismo, isso é a realidade”.

Esse bordão é só mais uma frase violenta contra as mulheres. Afinal, não basta a fala machista, é preciso também negar o machismo, recorrendo a uma suposta ordem universal, à natureza humana, ao Big Bang.

Essa frase é, também, uma afronta à inteligência de quem – por vontade, acidente ou punição cármica – assiste algum desses vídeos. É que não há diferença entre o machismo e a realidade.

Pesquisa realizada pela Datafolha e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública levantou que, no último ano,18,6 milhões de mulheres brasileiras sofreram algum tipo de agressão física ou verbal. 3,5 milhões foram vítimas de espancamento ou de tentativas de estrangulamento. 3,3, milhões foram ameaçadas com facas ou armas de fogo.  Essas agressões e ameaças são reais, os danos físicos e psíquicos a essas mulheres são reais, os corpos violentados, as feridas, os hematomas são reais. O machismo está na realidade, é realidade.

Porém, apesar de o machismo não ter mudado, e continuar sendo realidade, as mulheres mudaram e, com elas, a realidade também mudou. Muitos crimes que não eram denunciados, agora são. Muitas condutas que antes eram normalizadas não são mais aceitas pacificamente pelas mulheres e algumas dessas condutas agora são crime. Por exemplo, a violência psicológica contra a mulher foi recentemente tipificada como crime em pela Lei nº 14.188/2021. Muitas mulheres que ficariam caladas depois de uma agressão estão tendo a coragem e os meios para contar suas histórias.

Mas, se é verdade que a realidade mudou, é verdade também que ela precisa mudar muito mais. De acordo com a mesma pesquisa realizada pela Datafolha e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 45% das mulheres que sofreram algum tipo de agressão, não fizeram nada após o evento, só 14% procurou uma delegacia especializada em atendimento à mulher e só 8% procuraram delegacias comuns. O machismo é uma realidade ainda muito oculta, porque o custo para as mulheres de denunciar seus agressores segue sendo muito alto. Elas têm dificuldade em ser ouvidas, seu relato é posto em dúvida, os processos judiciais para apurar e punir as agressões são demorados e muitas vezes ineficazes. Elas temem pela própria segurança e convivem com o risco de a denúncia ou outras medidas legais provoquem uma reação ainda mais violenta do agressor.

Tudo isso é machismo, tudo isso é a realidade. É preciso lembrar aos influenciadores que incitam os homens a se tornarem mais tóxicos, mais violentos e a sentirem raiva das mulheres que as ideias e as palavras não são inofensivas, nem se esgotam na mera abstração. Elas produzem realidade, e a realidade são mulheres ameaçadas, espancadas e, muitas vezes, mortas, por homens que entendem que as mulheres devem servi-los e que, quando contrariados, querem impor pela força a servidão. São ameaçadas, espancadas e mortas pelo machismo. Que é realidade.

Por isso, esse discurso tem que ser criticado, ridicularizado, combatido. Com inteligência, com humor, com protesto.

E o crime de ameaça, em tese praticado pelo influenciador? Bom, esse está tipificado no artigo 147 do Código Penal desde 1940. O que mudou é que as mulheres já não recebem ameaças em silêncio. Essa é a realidade.